segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Desmaio e Epilepsia

DESMAIO E CRISE EPILÉTICA

O desmaio consiste na perda transitória da consciência e da força muscular, fazendo com que o paciente caia no chão. Pode ser causado por vários fatores, como a subnutrição, o cansaço, excesso de sol, stress. Pode ser precipitado por nervosismo, angústia e emoções fortes, além de ser intercorrência de muitas outras doenças.

Identificação:
· Tontura;
· Sensação de mal-estar;
· Pele fria, pálida e úmida;
· Suor frio;
· Perda da consciência.

Tratamento:
Diante de um indivíduo que sofreu desmaio, devemos proceder da seguinte maneira:
· Arejar o ambiente;
· Afrouxar as roupas da vítima;
· Deixar a vítima deitada e, se possível, com as pernas elevadas;
· Não permitir aglomeração no local para não prejudicar a vítima.

Crise Epilética:
A epilepsia é uma doença do sistema nervoso central que se caracteriza por causar crises de convulsões (ataques) em sua forma mais grave.

Os ataques ou convulsões se caracterizam por:
· Queda abrupta da vítima;
· Perda da consciência;
· Contrações de toda a musculatura corporal;
· Aumento da atividade glandular com salivação abundante e vômitos.

Pode ainda ocorrer o relaxamento dos esfíncteres com micção e evacuação involuntárias.
Ao despertar, o doente não se recorda de nada do que aconteceu durante a crise e sente-se muito cansado, indisposto e sonolento.

A conduta do socorrista no ataque epilético consiste, principalmente, em proteger o doente e evitar complicações. Deve-se deitar o paciente com roupas leves e desapertadas (as contrações musculares aumentam a temperatura corpórea) e virá-lo de lado para que não aspire as secreções ou o vômito para os pulmões.

Um cuidado especial deve ser dado à boca, pois o doente pode ferir-se, mordendo a língua ou as bochechas. Para tanto, interpõe-se um calço (pedaço de pano, por exemplo) entre os dentes superiores e inferiores, impedindo que eles se fechem. Esta manobra, entretanto, deve ser cuidadosa, pois o socorrista poderá ser mordido, ou o objeto poderá causar obstrução respiratória. Cessada a crise, que dura de 1 a 5 minutos, o doente deverá receber limpeza corpórea, ingerir líquidos e repousar em ambiente silencioso.

É preciso que os curiosos sejam afastados do local, pois esta doença acarreta um grande senso de inferioridade e a presença de estranhos apenas contribui para a acentuação do problema psicológico.

Deve-se orientar o paciente para voltar a procurar o médico, pois haverá necessidade de ajustar a dose da droga em uso.

Primeiros Socorros - Queimaduras

QUEIMADURAS

A pele é a nossa barreira natural de proteção contra os mais variados agentes agressores, como microorganismos, agentes físicos e químicos.
Além disso, a pele é o órgão mais extenso do corpo humano e é muito importante no controle da temperatura e retenção de líquidos.
A definição de queimadura é bem ampla, porém, basicamente, é a lesão causada pela ação direta ou indireta produzida pelo calor no corpo.
A sua manifestação varia desde uma pequena bolha (flictena) até formas mais graves capazes de desencadear respostas sistêmicas proporcionais à gravidade da lesão e sua respectiva extensão.

As Queimaduras são Classificadas de acordo com:
· O agente causal
· A profundidade
· A extensão (área corpórea atingida)

De acordo com o Agente Causador, a queimadura pode ser:

1. TÉRMICA (provocada por calor, líquidos quentes, objetos aquecidos, vapor).
2. QUÍMICA (provocada por ácidos e bases).
3. ELÉTRICA (quando provocada por raios e corrente elétricas).
4. POR RADIAÇÃO (quando provocada por radiação nuclear).

Para se classificar a queimadura de acordo com a sua extensão existem vários métodos, porém seu aprendizado requer muita prática. Para o socorrista é suficiente observar que quanto maior a extensão da queimadura maior risco de vida vítima estará correndo.
Quanto à profundidade da queimadura (número de camadas de pele atingidas):

1. PRIMEIRO GRAU: atinge somente a epiderme. Nessa queimadura, a pele apresenta-se em hiperemia (avermelhada), edemaciada (inchada) e há ardor no local dessa queimadura.

2. SEGUNDO GRAU: Atinge a epiderme estendo-se até a derme. Caracteriza-se pela presença das flictenas (bolhas). A vítima também apresenta dor local intensa, hiperemia e pele edemaciada.

3. TERCEIRO GRAU: Atinge todas as camadas da pele e hipoderme. É considerada grave pois pode provocar lesões que vão desde músculos até ossos. Caracteriza-se por apresentar coloração escura ou esbranquiçada, uma lesão seca, dura e indolor.

OBS: a queimadura não é obrigatoriamente uniforme! Podem ocorrer nos diversos graus e ao mesmo tempo.

PRIMEIROS SOCORROS EM QUEIMADURAS:

· Interrompa imediatamente o efeito do calor (utilize água fria, não use água gelada, ou utilize um lençol para apagar as chamas no corpo da vítima).
· Em caso de acidentes com queimaduras promovidas por corrente elétrica, não toque na vítima até que se desligue a energia. Tome cuidado com os fios soltos e água no chão.
· Para vítimas de corrente elétrica, observe se há parada respiratória, em caso afirmativo proceda com a respiração de socorro. Transporte imediatamente à vítima para o hospital.
· Faça a avaliação primária da vítima. Identifique qual o tipo, grau e extensão da queimadura.

A queimadura é uma lesão estéril, por isso tenha cuidado ao manuseá-la e evite ao máximo contaminá-la.

· Retire pulseiras, jóias, relógios, roupas que não estejam grudadas na pele da vítima.
· Caso a queimadura seja de 1º grau, retire a pessoa do sol, utilize substâncias refrescantes como produtos para aliviar a dor e faça a administração por via oral de líquidos.
· Caso a queimadura seja de 2º ou de 3º graus, lembre-se de cobrir a área queimada com gazes molhadas em soro fisiológico ou água limpa.
· Mantenha o curativo molhado usando recipientes de soro ou água limpa até levar a vítima ao hospital.
· NÃO fure as flictenas (bolhas)!
· NÃO utilize manteiga, creme dental, manteiga, gelo, óleo, banha, café na queimadura.
· Remova a pessoa para o hospital caso a queimadura seja muito extensa ou seja de 2º ou 3º graus.

"Mais do que prestar primeiros socorros em queimaduras é importante prevenir tais acidentes, principalmente nas épocas de festas populares e festejos juninos, épocas nas quais é evidenciado um aumento na incidência do número de queimados"

Incêndio em G.N.V.

COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS MOVIDOS A GNV
Data de Publicação: 28/09/2006 Seção: Artigos
O Maj BM RICARDO PEDROSA FREITAS juntamente com os Cadetes do 2* Ano do CFO estão trazendo com este artigo um pouco mais de conhecimento sobre os procedimentos de Combate a Incêndio em veículos equipados com Gás Natural Veicular. Todas estas instruções são resultados das instruções ministradas pelo Oficial na Academia de Bombeiro Militar D. Pedro II.

1) INTRODUÇÃO

Para falarmos de combate a incêndio em veículos, devemos antes levar em conta alguns aspectos:
- Mais de 50% das reservas totais de gás natural, ou seja, 205,8 bilhões de m³, estão localizadas na Bacia de Campos – RJ.
- O gás natural vem sendo utilIzado como combustível por veículos automotores.
- As vantagens econômicas que este combustível proporciona, como economia de até 70% em relação à gasolina dentre outras, vêm fazendo com que o mercado de instaladoras de kit de GNV (gás natural veicular) venha crescendo de forma intensa e o número de veículos movidos por este combustível cresça também proporcionalmente.
- Os veículos movidos a GNV, apesar da existência de um selo de identificação do uso deste combustível, não o utilizam, haja visto que este uso seria um atrativo ao furto do veículo e mesmo que o usassem, tal selo provavelmente seria destruído nos momentos iniciais de um incêndio, o que de qualquer forma torna a identificação do uso do gás inviável.
- Nem sempre é possível colher a informação dada pelo proprietário, de que o veículo é movido a GNV.
- O procedimento para combate a incêndios em veículos movidos a GNV é diferente do combate a incêndios a veículos movidos a diesel, gasolina ou álcool, em virtude principalmente do GNV ser um gás e estar armazenado sob alta pressão (200 bar ou 200Kgf/cm2).
Analisando os aspectos acima e levando-se em conta que o procedimento para combate a incêndios movidos a GNV requer cuidados maiores do que os movidos somente a gasolina, álcool ou a diesel, fica claro e evidente que para nós, profissionais de segurança, a melhor saída é sempre tratar um incêndio em veículo como se este fosse movido a GNV.

2) GNV
Definição
GNV é a sigla de Gás Natural Veicular, ou seja, é o gás natural utilizado em veículo automotor.
O GNV é o mesmo gás canalizado utilizado em residências, comércio e indústria, porém armazenado e transportado sob alta pressão em cilindros especiais, alimentando o motor do veículo.

Composição
O GNV é composto de METANO (CH4), de 70 a 95%; ETANO (C2H6), de 5% a 13%; PROPANO (C3H8), de 0,2% a 9%; BUTANO (C4H10) e gases mais pesados, de 0 a 7% em volume .

Características
Incolor, inodoro (sendo acrescentado o odorizador gás Mercaptana, como no GLP, para identificar vazamentos), não é tóxico nem irritante no manuseio (baixa concentração), pode causar asfixia, é inflamável e menos denso do que o ar (0,62 em relação à densidade do ar enquanto que o GLP é 2,10 vezes mais denso que o ar).
Ponto de ebulição, ponto de fulgor e de ignição
Ponto de ebulição- -161,4ºC
Ponto de fulgor- não se aplica por ser um gás
Ponto de ignição- 632ºC
LIE (limite inferior de explosividade) e LSE (limite superior de explosividade)

GNV 6,5% 17%

GLP 1,8% 9,3%

PROCEDIMENTOS DO SOCORRO
3.1- EPI necessário
Roupa de aproximação do tipo NOMEX, capacetes com visor, luvas e equipamento autônomo de respiração (máscara do tipo MSA), todos já disponíveis em nossa Corporação.
SOMOS PROFISSIONAIS E NÃO AMADORES OU AVENTUREIROS! Por isso, o uso do EPI(Equipamento de Proteção Individual) é indispensável.

3.2- Estabelecimento
Análise do local:
Verificar o tipo de via (rodovia, túnel, via urbana etc.).
Verificar se há grande fluxo de pessoas.
Observar se há combustível derramado sob o veículo ou escorrendo para os arredores.
Ao aproximar-se do veículo, considerá-lo sempre movido a GNV.

Posicionamento das viaturas:
Escolher a posição da viatura visando a segurança da mesma e da guarnição, no mínimo, a 100 metros para carros de passeio, 200 metros para vans e táxis, e 300 metros para veículos de carga ou reboque, do veículo sinistrado.
Aproximar-se com o vento pelas costas.

3.3- Isolamento
No caso de simples vazamento,deverá ser evacuadas as pessoas e animais num raio de 400m.
Nos casos em que houver chama envolvendo os cilindros, deverá ser adotado um raio mínimo de 800m.
As barreiras encontradas como muros e construções diversas podem ser levadas em consideração para auxiliar na limitação dos danos.

3.4- Aproximação
Tipos de veículos:
Auto comum (carros de passeio)
Ônibus e caminhões
Vans / Kombi
Pick-up
Por onde se aproximar:
Em carros de passeio pela frente do veículo, pois o cilindro se localiza atrás do automóvel.
Em ônibus e caminhões, aproximar-se por trás ou pela frente, pois os cilindros estão localizados fixos nos chassis de ambos os lados entre os eixos dianteiro e traseiro.
Em vans e Kombis por trás ou pela frente, pelo mesmo motivo acima citado.
Em pick-ups pela frente pois os cilindros estão sobre a caçamba ou carroceria de madeira.

3.5- Combate
Os Bombeiros devem estar equipados com capacetes, roupas de aproximação, cinto, luvas, botas e equipamento de proteção respiratória do tipo autônomo;
- Verificar a direção do vento;
- Armar duas linhas direta de 1 ½” com esguichos reguláveis ou armar dois magotinhos ou armar 1 linha direta de 1 ½” e 1 mangotinho;
- Procurar sempre ter uma linha como proteção;
- O combate deverá ser realizado através do método de resfriamento dos tanques, a fim de ser evitado o fenômeno B.L.E.V.E (Boiling Liquid Expanding Vapor Explosion) nos cilindros envolvidos em chamas ou aquecimento por irradiação;
- Deverá também ser utilizado jato neblina em alta pressão (acima de 100 lbs), a fim de se proceder ao efeito de arrastamento do ar (exaustão), para dispersão da concentração de GNV;
- O combate deverá ser realizado em posição de “alarme gases”.

3.6- Fechamento das válvulas
3.6.2 Válvula de Abastecimento
Esta válvula se encontra localizada na parte destinada ao acondicionamento do motor do veículo, intermediando o Carburador ou TBI da Injeção Eletrônica e o cilindro de armazenamento do GNV.
Sua principal função é a de interromper o fluxo de GNV do cilindro para o motor. Constitui-se numa pequena alavanca, geralmente pintada na cor vermelha, que se girada no sentido anti-horário realiza a ação para a qual fora criada.

3.6.3 Válvula do Cilindro
Encontra-se localizada junto ao cilindro de abastecimento de GNV, é um registro que impede a alimentação do citado gás ali armazenado para o restante do sistema.
Para fechá-la é necessário romper um plástico que o cobre, colocado pela empresa instaladora do Kit GNV e girar o registro no sentido anti-horário.

3.8- Desligamento do cabo da bateria
Assim que o cilindro for resfriado e for feito o fechamento das válvulas, deve-se proceder à desconexão dos cabos da bateria.
O cabo da bateria a ser desconectado primeiro deve ser o negativo em razão de a mesma fazer seu aterramento com o chassis do carro através de seu borne negativo. Do contrário, se desconectássemos primeiramente o pólo positivo, correr-se-ia o risco de a chave metálica entrar em contato com alguma parte da carroceria e, estando esta ligada ainda ligada ao pólo negativo da bateria, fecharia o circuito e provocando centelhas.

3.7 Anotações de dados sobre eventos envolvendo veículos movidos a GNV
O Boletim da SEDEC/CBMERJ nº 032, de 17 de fevereiro de 2004, em sua fl. nº 958, item 12 – Nota EMG/CH 050/2004, padroniza a anotação de dados sobre eventos envolvendo veículos movidos a GNV, para confecção de Quesitos, conforme abaixo transcrito:
“Sub Comandante Geral determina:
Todos os dados relativos ao abastecimento por GNV desses veículos, contidos no Certificado de Segurança Veicular (CSV) em especial da empresa instaladora do Sistema de Abastecimento por GNV:
- Número do CSV;
- Número do cilindro;
- Número do Redutor;
- Marca;
- Data de fabricação;
- Data de reteste do cilindro

4- CONCLUSÃO

Concluímos então que os procedimentos para operações com GNV devem ser adotados para o combate a incêndios em qualquer tipo de veículo exceto motos, devido ao grande número de veículos que trafegam utilizando-se deste tipo de combustível.
Salientamos também que tais procedimentos também devem ser adotados devido ao grande potencial explosivo do dispositivo de armazenagem do GNV, e por visarem proteger a população e a própria guarnição.

Referência bibliográfica: Manual de atendimento a gás natural veicular, SIMAS JR, CARLOS ALBERTO – MAJ BM QOC/92.
Combate a incêndios em veículos movidos a GN V, IBP – 2003.
Elaborado por: Maj BM PEDROSA, instrutor de TMI II e turma 2º ano A composta pelos Cadetes BM MIRELA, VITOR FREITAS, VIMECATI, FLALDIMIR, MARCOS ESCARANI, ALESSANDRA, MEDINA, BRNO MELO, POLYCARPO, YGOR PARAÍSO, THAYENE, FELIPE GONÇALVES, RUBENS, GRANGEIRO, MICHELLE, AIETA, CECCHI, JULIAN, AMANDA, KURZ, DIEGO MACEDO, ELDER, VILLAVERDE, WAGNER MEIRELLES, TOSTES, ROBERTA, PIMENTA, CARLA PRADO, PORTO, WELLINGTO ARAÚJO, PIRES VAZ e LUIZ CLÁUDIO.

O mito da caverna - Platão


O Mito da Caverna

Extraído de "A República" de Platão . 6° ed. Ed. Atena, 1956, p. 287-291

SÓCRATES – Figura-te agora o estado da natureza humana, em relação à ciência e à ignorância, sob a forma alegórica que passo a fazer. Imagina os homens encerrados em morada subterrânea e cavernosa que dá entrada livre à luz em toda extensão. Aí, desde a infância, têm os homens o pescoço e as pernas presos de modo que permanecem imóveis e só vêem os objetos que lhes estão diante. Presos pelas cadeias, não podem voltar o rosto. Atrás deles, a certa distância e altura, um fogo cuja luz os alumia; entre o fogo e os cativos imagina um caminho escarpado, ao longo do qual um pequeno muro parecido com os tabiques que os pelotiqueiros põem entre si e os espectadores para ocultar-lhes as molas dos bonecos maravilhosos que lhes exibem.

GLAUCO - Imagino tudo isso.

SÓCRATES - Supõe ainda homens que passam ao longo deste muro, com figuras e objetos que se elevam acima dele, figuras de homens e animais de toda a espécie, talhados em pedra ou madeira. Entre os que carregam tais objetos, uns se entretêm em conversa, outros guardam em silêncio.

GLAUCO - Similar quadro e não menos singulares cativos!

SÓCRATES - Pois são nossa imagem perfeita. Mas, dize-me: assim colocados, poderão ver de si mesmos e de seus companheiros algo mais que as sombras projetadas, à claridade do fogo, na parede que lhes fica fronteira?

GLAUCO - Não, uma vez que são forçados a ter imóveis a cabeça durante toda a vida.

SÓCRATES - E dos objetos que lhes ficam por detrás, poderão ver outra coisa que não as sombras?

GLAUCO - Não.

SÓCRATES - Ora, supondo-se que pudessem conversar, não te parece que, ao falar das sombras que vêem, lhes dariam os nomes que elas representam?

GLAUCO - Sem dúvida.

SÓCRATES - E, se, no fundo da caverna, um eco lhes repetisse as palavras dos que passam, não julgariam certo que os sons fossem articulados pelas sombras dos objetos?

GLAUCO - Claro que sim.

SÓCRATES - Em suma, não creriam que houvesse nada de real e verdadeiro fora das figuras que desfilaram.

GLAUCO - Necessariamente.

SÓCRATES - Vejamos agora o que aconteceria, se se livrassem a um tempo das cadeias e do erro em que laboravam. Imaginemos um destes cativos desatado, obrigado a levantar-se de repente, a volver a cabeça, a andar, a olhar firmemente para a luz. Não poderia fazer tudo isso sem grande pena; a luz, sobre ser-lhe dolorosa, o deslumbraria, impedindo-lhe de discernir os objetos cuja sombra antes via.
Que te parece agora que ele responderia a quem lhe dissesse que até então só havia visto fantasmas, porém que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, via com mais perfeição? Supõe agora que, apontando-lhe alguém as figuras que lhe desfilavam ante os olhos, o obrigasse a dizer o que eram. Não te parece que, na sua grande confusão, se persuadiria de que o que antes via era mais real e verdadeiro que os objetos ora contemplados?

GLAUCO - Sem dúvida nenhuma.

SÓCRATES - Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos doloridos para as sombras que poderia ver sem dor? Não as consideraria realmente mais visíveis que os objetos ora mostrados?

GLAUCO - Certamente.

SÓCRATES - Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo caminho áspero e escarpado, para só o liberar quando estivesse lá fora, à plena luz do sol, não é de crer que daria gritos lamentosos e brados de cólera? Chegando à luz do dia, olhos deslumbrados pelo esplendor ambiente, ser-lhe ia possível discernir os objetos que o comum dos homens tem por serem reais?

GLAUCO - A princípio nada veria.

SÓCRATES - Precisaria de algum tempo para se afazer à claridade da região superior. Primeiramente, só discerniria bem as sombras, depois, as imagens dos homens e outros seres refletidos nas águas; finalmente erguendo os olhos para a lua e as estrelas, contemplaria mais facilmente os astros da noite que o pleno resplendor do dia.

GLAUCO - Não há dúvida.

SÓCRATES - Mas, ao cabo de tudo, estaria, decerto, em estado de ver o próprio sol, primeiro refletido na água e nos outros objetos, depois visto em si mesmo e no seu próprio lugar, tal qual é.

GLAUCO - Fora de dúvida.

SÓCRATES - Refletindo depois sobre a natureza deste astro, compreenderia que é o que produz as estações e o ano, o que tudo governa no mundo visível e, de certo modo, a causa de tudo o que ele e seus companheiros viam na caverna.

GLAUCO - É claro que gradualmente chegaria a todas essas conclusões.

SÓCRATES - Recordando-se então de sua primeira morada, de seus companheiros de escravidão e da idéia que lá se tinha da sabedoria, não se daria os parabéns pela mudança sofrida, lamentando ao mesmo tempo a sorte dos que lá ficaram?

GLAUCO - Evidentemente.

SÓCRATES - Se na caverna houvesse elogios, honras e recompensas para quem melhor e mais prontamente distinguisse a sombra dos objetos, que se recordasse com mais precisão dos que precediam, seguiam ou marchavam juntos, sendo, por isso mesmo, o mais hábil em lhes predizer a aparição, cuidas que o homem de que falamos tivesse inveja dos que no cativeiro eram os mais poderosos e honrados? Não preferiria mil vezes, como o herói de Homero, levar a vida de um pobre lavrador e sofrer tudo no mundo a voltar às primeiras ilusões e viver a vida que antes vivia?

GLAUCO - Não há dúvida de que suportaria toda a espécie de sofrimentos de preferência a viver da maneira antiga.

SÓCRATES - Atenção ainda para este ponto. Supõe que nosso homem volte ainda para a caverna e vá assentar-se em seu primitivo lugar. Nesta passagem súbita da pura luz à obscuridade, não lhe ficariam os olhos como submersos em trevas?

GLAUCO - Certamente.

SÓCRATES - Se, enquanto tivesse a vista confusa -- porque bastante tempo se passaria antes que os olhos se afizessem de novo à obscuridade -- tivesse ele de dar opinião sobre as sombras e a este respeito entrasse em discussão com os companheiros ainda presos em cadeias, não é certo que os faria rir? Não lhe diriam que, por ter subido à região superior, cegara, que não valera a pena o esforço, e que assim, se alguém quisesse fazer com eles o mesmo e dar-lhes a liberdade, mereceria ser agarrado e morto?

GLAUCO - Por certo que o fariam.

SÓCRATES - Pois agora, meu caro Glauco, é só aplicar com toda a exatidão esta imagem da caverna a tudo o que antes havíamos dito. O antro subterrâneo é o mundo visível. O fogo que o ilumina é a luz do sol. O cativo que sobe à região superior e a contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível. Ou, antes, já que o queres saber, é este, pelo menos, o meu modo de pensar, que só Deus sabe se é verdadeiro. Quanto à mim, a coisa é como passo a dizer-te. Nos extremos limites do mundo inteligível está a idéia do bem, a qual só com muito esforço se pode conhecer, mas que, conhecida, se impõe à razão como causa universal de tudo o que é belo e bom, criadora da luz e do sol no mundo visível, autora da inteligência e da verdade no mundo invisível, e sobre a qual, por isso mesmo, cumpre ter os olhos fixos para agir com sabedoria nos negócios particulares e públicos.

Acidentes com Bicicletas


ACIDENTES COM BIKE

Artigo científico comenta acidentes relacionados ao ciclismo.

"O ciclismo é um tipo popular de recreação entre as pessoas de todas as idades, porém acidentes relacionados a esta modalidade são bastante comuns, podendo levar a seqüelas e até à morte. Em geral os acidentes são mais comuns com pessoas do sexo masculino e estão relacionados com a velocidade, sendo os fatais com freqüência devido a colisões com outros veículos motorizados. Apesar das lesões superficiais da pele e da musculatura serem as mais comuns, os traumas cranianos são os responsáveis pela maior mortalidade e pelo maior tempo de inatividade".

Em 1994, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, nos Estados Unidos, estimou que 72,7% das crianças com idade entre cinco e 14 anos possuíam algum tipo de bicicleta (62% do tipo mountain-bike), perfazendo um total de 27,7 milhões de crianças ciclistas.

Um trabalho apresentado por MATTHEW J. THOMPSON, M.B., CH.B, and FREDERICK P. RIVARA, M.D., M.P.H. da University of Washington School of Medicine, Seattle, Washington, apresenta dados interessantes.
Os autores mencionam que os acidentes relacionados ao ciclismo são responsáveis por aproximadamente 900 mortes, 23 mil internações hospitalares, 580 mil visitas ao departamento de emergência e, a mais de 1,2 milhões de visitas médicas, por ano, nos Estados Unidos. O custo anual estimado em mais de oito bilhões de dólares. Em 1988 foi estimado que aproximadamente 4,4 milhões de crianças, com idade entre cinco e 17 anos, foram feridas em acidentes envolvendo a participação em esportes ou recreação, sendo que destes, 10% a 40 % se relacionavam com o ciclismo.

Fatores de risco

Entre as condições de risco para os acidentes devido ao ciclismo, o estudo destaca: ciclista do sexo masculino; idade entre nove e 14 anos; verão; fim de tarde ou no início da noite; não usar capacete; automóvel envolvido; ambiente inseguro; ciclista portador de distúrbio psiquiátrico; intoxicação (álcool e outras drogas); competições de mountain bike.

Causas

As causas apontadas foram principalmente falhas do ciclista como perda de controle, inexperiência, realização de acrobacias e alta velocidade, falha do motorista de outro veículo envolvido, ambientes perigosos (obstáculos, cascalho na pista) e problemas mecânicos na bicicleta. Em geral, as colisões com outros veículos e a alta velocidade são os responsáveis pelos acidentes fatais.

Tipos de trauma

No levantamento realizado as lesões se localizam primeiramente nas extremidades, seguidas de lesões na cabeça, face, abdômen ou tórax e pescoço. Os traumas superficiais são os mais freqüentes e se caracterizam por abrasões, contusões e lacerações. As abrasões podem envolver parcial ou totalmente a espessura da pele, sendo no último caso, necessária uma intervenção cirúrgica para prevenir “tatuagens traumáticas”.
As distensões, fraturas e luxações também são comuns, podendo ser identificadas por deformidades, edema, dor, hematomas ou alteração da função. Muitas vezes é necessário um estudo de imagem para o diagnóstico.
Os traumas cranianos (contusão cerebral, hemorragia intracraniana, fraturas) ocorreram em 22% a 47% dos ciclistas acidentados, sendo responsáveis por 60% dos óbitos e por um longo tempo de inatividade. As lesões do pescoço foram raras, e geralmente decorreram de colisão direta com outro veículo.
O trauma abdominal é representado por lesões no baço, fígado, pâncreas, rins, hérnias traumáticas e fraturas pélvicas dentre outras. O trauma perineal pode envolver os órgãos genitais e a uretra. Foi mencionado que os ciclistas “rurais” (off-road) têm uma incidência de acidentes 40% menor que os urbanos.

Outras lesões

O trabalho destacou que a atividade ciclística propicia, além do trauma, lesões tardias, que ocorrem principalmente devido à constância da atividade (principalmente em competidores) e ao posicionamento incorreto do ciclista (com relação ao assento e ao pedal). As dores no pescoço e nas costas foram as queixas mais comuns dos ciclistas.
Prevenção

Os especialistas sugerem que os alongamentos são benéficos antes do ciclismo e que se deve diminuir a distância ao guidão e reduzir discretamente a inclinação do selim.(10 a 15 graus). A pressão prolongada do guidão e a posição dos punhos podem levar a uma neuropatia progressiva nas mãos, sendo a mais comum a síndrome do túnel do carpo.

Outras medidas preventivas sugeridas incluíram utilizar um selim mais confortável, vestir bermudas com almofadas e utilizar todos os equipamentos de segurança. A interação entre atrito, suor e roupas justas propicia maceração e irritação da pele na virilha.

O uso de capacetes produz um efeito substancial reduzindo em 74% a 85% as lesões na cabeça e em aproximadamente 65% traumas na região superior da face e no nariz, desde que utilizado corretamente. Medidas de conscientização quanto ao uso de capacetes estão sendo muito eficazes nos Estados Unidos, propiciando um aumento na adesão de 40% a 50% em várias comunidades.

A utilização de luvas reduz substancialmente as lesões superficiais da mão e previne a compressão de nervos. O uso de óculos de policarboneto protege contra os raios solares e corpos estranhos.
No geral, crianças menores de 10 anos devem evitar pedalar em locais com tráfego de veículos e as demais devem treinar, antecipar os erros dos motoristas e avaliar as condições de tempo. Outras medidas eficazes sugeridas consistem em separar ciclistas e motoristas (ciclovia) e proibir que eles andem no passeio (um estudo recente mostrou que andar no passeio é mais perigoso que andar nas ruas).

É muito oportuna a discussão sobre os riscos e a prevenção de acidentes envolvendo ciclistas. O número de adeptos do ciclismo em todo o mundo é muito grande, seja como atividade esportiva, recreativa ou de trabalho.
As crianças e os adolescentes são especialmente vulneráveis aos acidentes com bicicletas. Andar de bicicleta está associado a uma sensação de liberdade, aventura e prazer. Os benefícios para o desenvolvimento físico e emocional são inequívocos, entretanto, ao adotar o hábito é fundamental que os jovens sejam corretamente orientados e supervisionados pelos adultos responsáveis.

Referências Bibliográficas:1. MATTHEW J. THOMPSON, M.B., CH.B, and FREDERICK P. RIVARA, M.D., M.P.H.; University of Washington School of Medicine, Seattle, Washington.
FONTE: Boa Saúde/UOL