segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Incêndio em G.N.V.

COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS MOVIDOS A GNV
Data de Publicação: 28/09/2006 Seção: Artigos
O Maj BM RICARDO PEDROSA FREITAS juntamente com os Cadetes do 2* Ano do CFO estão trazendo com este artigo um pouco mais de conhecimento sobre os procedimentos de Combate a Incêndio em veículos equipados com Gás Natural Veicular. Todas estas instruções são resultados das instruções ministradas pelo Oficial na Academia de Bombeiro Militar D. Pedro II.

1) INTRODUÇÃO

Para falarmos de combate a incêndio em veículos, devemos antes levar em conta alguns aspectos:
- Mais de 50% das reservas totais de gás natural, ou seja, 205,8 bilhões de m³, estão localizadas na Bacia de Campos – RJ.
- O gás natural vem sendo utilIzado como combustível por veículos automotores.
- As vantagens econômicas que este combustível proporciona, como economia de até 70% em relação à gasolina dentre outras, vêm fazendo com que o mercado de instaladoras de kit de GNV (gás natural veicular) venha crescendo de forma intensa e o número de veículos movidos por este combustível cresça também proporcionalmente.
- Os veículos movidos a GNV, apesar da existência de um selo de identificação do uso deste combustível, não o utilizam, haja visto que este uso seria um atrativo ao furto do veículo e mesmo que o usassem, tal selo provavelmente seria destruído nos momentos iniciais de um incêndio, o que de qualquer forma torna a identificação do uso do gás inviável.
- Nem sempre é possível colher a informação dada pelo proprietário, de que o veículo é movido a GNV.
- O procedimento para combate a incêndios em veículos movidos a GNV é diferente do combate a incêndios a veículos movidos a diesel, gasolina ou álcool, em virtude principalmente do GNV ser um gás e estar armazenado sob alta pressão (200 bar ou 200Kgf/cm2).
Analisando os aspectos acima e levando-se em conta que o procedimento para combate a incêndios movidos a GNV requer cuidados maiores do que os movidos somente a gasolina, álcool ou a diesel, fica claro e evidente que para nós, profissionais de segurança, a melhor saída é sempre tratar um incêndio em veículo como se este fosse movido a GNV.

2) GNV
Definição
GNV é a sigla de Gás Natural Veicular, ou seja, é o gás natural utilizado em veículo automotor.
O GNV é o mesmo gás canalizado utilizado em residências, comércio e indústria, porém armazenado e transportado sob alta pressão em cilindros especiais, alimentando o motor do veículo.

Composição
O GNV é composto de METANO (CH4), de 70 a 95%; ETANO (C2H6), de 5% a 13%; PROPANO (C3H8), de 0,2% a 9%; BUTANO (C4H10) e gases mais pesados, de 0 a 7% em volume .

Características
Incolor, inodoro (sendo acrescentado o odorizador gás Mercaptana, como no GLP, para identificar vazamentos), não é tóxico nem irritante no manuseio (baixa concentração), pode causar asfixia, é inflamável e menos denso do que o ar (0,62 em relação à densidade do ar enquanto que o GLP é 2,10 vezes mais denso que o ar).
Ponto de ebulição, ponto de fulgor e de ignição
Ponto de ebulição- -161,4ºC
Ponto de fulgor- não se aplica por ser um gás
Ponto de ignição- 632ºC
LIE (limite inferior de explosividade) e LSE (limite superior de explosividade)

GNV 6,5% 17%

GLP 1,8% 9,3%

PROCEDIMENTOS DO SOCORRO
3.1- EPI necessário
Roupa de aproximação do tipo NOMEX, capacetes com visor, luvas e equipamento autônomo de respiração (máscara do tipo MSA), todos já disponíveis em nossa Corporação.
SOMOS PROFISSIONAIS E NÃO AMADORES OU AVENTUREIROS! Por isso, o uso do EPI(Equipamento de Proteção Individual) é indispensável.

3.2- Estabelecimento
Análise do local:
Verificar o tipo de via (rodovia, túnel, via urbana etc.).
Verificar se há grande fluxo de pessoas.
Observar se há combustível derramado sob o veículo ou escorrendo para os arredores.
Ao aproximar-se do veículo, considerá-lo sempre movido a GNV.

Posicionamento das viaturas:
Escolher a posição da viatura visando a segurança da mesma e da guarnição, no mínimo, a 100 metros para carros de passeio, 200 metros para vans e táxis, e 300 metros para veículos de carga ou reboque, do veículo sinistrado.
Aproximar-se com o vento pelas costas.

3.3- Isolamento
No caso de simples vazamento,deverá ser evacuadas as pessoas e animais num raio de 400m.
Nos casos em que houver chama envolvendo os cilindros, deverá ser adotado um raio mínimo de 800m.
As barreiras encontradas como muros e construções diversas podem ser levadas em consideração para auxiliar na limitação dos danos.

3.4- Aproximação
Tipos de veículos:
Auto comum (carros de passeio)
Ônibus e caminhões
Vans / Kombi
Pick-up
Por onde se aproximar:
Em carros de passeio pela frente do veículo, pois o cilindro se localiza atrás do automóvel.
Em ônibus e caminhões, aproximar-se por trás ou pela frente, pois os cilindros estão localizados fixos nos chassis de ambos os lados entre os eixos dianteiro e traseiro.
Em vans e Kombis por trás ou pela frente, pelo mesmo motivo acima citado.
Em pick-ups pela frente pois os cilindros estão sobre a caçamba ou carroceria de madeira.

3.5- Combate
Os Bombeiros devem estar equipados com capacetes, roupas de aproximação, cinto, luvas, botas e equipamento de proteção respiratória do tipo autônomo;
- Verificar a direção do vento;
- Armar duas linhas direta de 1 ½” com esguichos reguláveis ou armar dois magotinhos ou armar 1 linha direta de 1 ½” e 1 mangotinho;
- Procurar sempre ter uma linha como proteção;
- O combate deverá ser realizado através do método de resfriamento dos tanques, a fim de ser evitado o fenômeno B.L.E.V.E (Boiling Liquid Expanding Vapor Explosion) nos cilindros envolvidos em chamas ou aquecimento por irradiação;
- Deverá também ser utilizado jato neblina em alta pressão (acima de 100 lbs), a fim de se proceder ao efeito de arrastamento do ar (exaustão), para dispersão da concentração de GNV;
- O combate deverá ser realizado em posição de “alarme gases”.

3.6- Fechamento das válvulas
3.6.2 Válvula de Abastecimento
Esta válvula se encontra localizada na parte destinada ao acondicionamento do motor do veículo, intermediando o Carburador ou TBI da Injeção Eletrônica e o cilindro de armazenamento do GNV.
Sua principal função é a de interromper o fluxo de GNV do cilindro para o motor. Constitui-se numa pequena alavanca, geralmente pintada na cor vermelha, que se girada no sentido anti-horário realiza a ação para a qual fora criada.

3.6.3 Válvula do Cilindro
Encontra-se localizada junto ao cilindro de abastecimento de GNV, é um registro que impede a alimentação do citado gás ali armazenado para o restante do sistema.
Para fechá-la é necessário romper um plástico que o cobre, colocado pela empresa instaladora do Kit GNV e girar o registro no sentido anti-horário.

3.8- Desligamento do cabo da bateria
Assim que o cilindro for resfriado e for feito o fechamento das válvulas, deve-se proceder à desconexão dos cabos da bateria.
O cabo da bateria a ser desconectado primeiro deve ser o negativo em razão de a mesma fazer seu aterramento com o chassis do carro através de seu borne negativo. Do contrário, se desconectássemos primeiramente o pólo positivo, correr-se-ia o risco de a chave metálica entrar em contato com alguma parte da carroceria e, estando esta ligada ainda ligada ao pólo negativo da bateria, fecharia o circuito e provocando centelhas.

3.7 Anotações de dados sobre eventos envolvendo veículos movidos a GNV
O Boletim da SEDEC/CBMERJ nº 032, de 17 de fevereiro de 2004, em sua fl. nº 958, item 12 – Nota EMG/CH 050/2004, padroniza a anotação de dados sobre eventos envolvendo veículos movidos a GNV, para confecção de Quesitos, conforme abaixo transcrito:
“Sub Comandante Geral determina:
Todos os dados relativos ao abastecimento por GNV desses veículos, contidos no Certificado de Segurança Veicular (CSV) em especial da empresa instaladora do Sistema de Abastecimento por GNV:
- Número do CSV;
- Número do cilindro;
- Número do Redutor;
- Marca;
- Data de fabricação;
- Data de reteste do cilindro

4- CONCLUSÃO

Concluímos então que os procedimentos para operações com GNV devem ser adotados para o combate a incêndios em qualquer tipo de veículo exceto motos, devido ao grande número de veículos que trafegam utilizando-se deste tipo de combustível.
Salientamos também que tais procedimentos também devem ser adotados devido ao grande potencial explosivo do dispositivo de armazenagem do GNV, e por visarem proteger a população e a própria guarnição.

Referência bibliográfica: Manual de atendimento a gás natural veicular, SIMAS JR, CARLOS ALBERTO – MAJ BM QOC/92.
Combate a incêndios em veículos movidos a GN V, IBP – 2003.
Elaborado por: Maj BM PEDROSA, instrutor de TMI II e turma 2º ano A composta pelos Cadetes BM MIRELA, VITOR FREITAS, VIMECATI, FLALDIMIR, MARCOS ESCARANI, ALESSANDRA, MEDINA, BRNO MELO, POLYCARPO, YGOR PARAÍSO, THAYENE, FELIPE GONÇALVES, RUBENS, GRANGEIRO, MICHELLE, AIETA, CECCHI, JULIAN, AMANDA, KURZ, DIEGO MACEDO, ELDER, VILLAVERDE, WAGNER MEIRELLES, TOSTES, ROBERTA, PIMENTA, CARLA PRADO, PORTO, WELLINGTO ARAÚJO, PIRES VAZ e LUIZ CLÁUDIO.

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