quinta-feira, 9 de abril de 2009

Reflexões de Fidel

REFLEXÕES DE FIDEL
Transcrita do site: www.granma.cu

Por que Cuba é excluída?
Ontem, 3 de abril, ao meio-dia, tive um encontro de quase duas horas com Daniel Ortega e sua esposa, Rosario Murillo.
Como já tinha explicado numa carta enviada à tarde, a Daniel, fiquei gratamente impressionado com o encontro. Agradeci-lhe a oportunidade que tive de saber detalhes de sua luta na Nicarágua.
Expressei-lhe minha tristeza pelos dirigentes que falharam e lembrei-me de Tomás Borge, Bayardo, Jaime Wheelock, Miguel D’Escoto e mais outros que se mantiveram fiéis aos sonhos de Sandino e às idéias revolucionárias que a Frente Sandinista levou à Nicarágua.
Roguei-lhe que me enviasse notícias com a maior freqüência possível para saber das vicissitudes de um pequeno país do Terceiro Mundo diante das ambições insaciáveis do G-7.
Enviei a Rosário um exemplar do livro Geologia de Cuba para todos, que recebi há três dias, uma maravilhosa biografia da natureza da nossa ilha através de centenas de milhões de anos, ilustrado com belas imagens e fotografias, escrito por 12 cientistas cubanos, que com suas narrações e análises, constitui uma joia literária. Mostrei-o a ela e interessou-lhe muito.
Conversei longamente com Daniel sobre a "famosa" Cúpula das Américas que terá lugar nos dias 17,18 e 19, em Porto Espanha, capital de Trinidad e Tobago.
Essas cúpulas têm sua história, com certeza, tenebrosa demais. A primeira foi realizada em Miami, capital da contrarrevolução, do bloqueio e da guerra suja contra Cuba. Essa cúpula efetuou-se nos dias 9, 10 e 11 de dezembro de 1994. Foi convocada por Bill Clinton, eleito presidente dos Estados Unidos em novembro de 1992.
A URSS tinha-se desintegrado e nosso país encontrava-se em meio ao período especial. Pensavam que se desintegraria o socialismo em nossa pátria, como aconteceu no Leste europeu primeiro e depois na própria União Soviética.
Os contra-revolucionários preparavam suas malas para voltarem vitoriosos a Cuba. Bush pai tinha perdido as eleições, como conseqüência, sobretudo, da aventura bélica no Iraque. Clinton preparava-se para a era pós-Cuba revolucionária na América Latina. O Consenso de Washington tinha plena vigência.
A guerra suja contra Cuba estava quase a terminar com sucesso. A Guerra Fria terminava com a vitória do Ocidente e começava uma nova era para o mundo.
Em 1994, os presidentes da América do Sul e Central, animados pelo convite de Clinton, assistiram com muito entusiasmo à Cúpula de Miami.
O presidente da Argentina, Carlos Ménem, encabeçava a lista de presidentes sul-americanos que participariam da cúpula, seguidos por Lacalle, o vizinho direitista do Uruguai; por Eduardo Frei, da Democracia Cristã do Chile; pelo boliviano Sánchez de Lozada; por Fujimori, do Peru, e por Rafael Caldera, da Venezuela. Não era nada incomum que motivassem a presença de Itamar Franco e Fernando Enrique Cardoso, seu sucessor na presidência; Samper, da Colômbia; e Sixto Durán, do Equador.
A lista de representantes da América Central na Cúpula de Miami esteve liderada por Calderón Sol, da Arena em El Salvador, e por Violeta Chamorro que, em virtude da guerra suja antissandinista, foi imposta na Nicarágua por Reagan e Bush pai.
Na Cúpula de Miami, o México esteve representado por Ernesto Zedillo.
Por trás da mesma havia um objetivo estratégico: o sonho imperialista de um acordo de livre comércio, do Canadá à Patagônia.
Hugo Chávez, presidente da República Bolivariana da Venezuela, ainda não tinha aparecido nas cúpulas até a de 2001, em Québec. Também não George W. Bush com seu tenebroso papel na arena internacional.
O nosso Herói Nacional, José Martí, conheceu a primeira grande crise econômica do capitalismo nos Estados Unidos, que durou até 1893. Compreendia que a união econômica com os Estados Unidos significaria o fim da independência e da cultura dos povos da América Latina.
Em maio de 1888, o presidente dos Estados Unidos encaminhou aos povos da América e do Reino de Havaí, no Pacífico, um convite do Senado e da Câmara dos Representante desse país para participar de uma conferência internacional em Washington a fim de discutir, entre outras questões, "a adoção por parte de cada um dos governos de uma moeda comum de prata, que fosse usada obrigatoriamente nas transações comerciais recíprocas dos cidadãos de todos os Estados da América".
Sem dúvida, os membros do Congresso tiveram que estudar bem as conseqüências daquelas medidas.
Quase dois anos depois, a Conferência Internacional Americana, da qual os Estados Unidos faziam parte, recomendou que se estabelecesse uma união monetária internacional e que, como base desta união, fossem cunhadas uma ou mais moedas que pudessem ser usadas nos países representados.
Finalmente, após um mês de prorrogação, segundo conta o próprio Martí, na Comissão Monetária Internacional, a delegação dos Estados Unidos declarou, em março de 1891, que "era um sonho fascinante que não podia ser intentado sem a aceitação dos outros países do mundo". Também recomendou usar ouro e prata nas moedas que fossem cunhadas.
Era uma premonição do que aconteceu 55 anos depois, quando em Bretton Woods lhe concederam o privilégio de emitir em papel moeda a divisa internacional, usar o ouro e a prata.
Contudo, aquele fato deu lugar a que Martí fizesse a análise política e econômica mais impressionante que li na minha vida, publicada na Revista Ilustrada de Nova York, no mês de maio de 1891, na qual se opôs resolutamente à ideia.
Durante o encontro com Daniel, ele me entregou um grande número de parágrafos que são discutidos sobre a declaração final da próxima cúpula em Porto Espanha.
A OEA, como secretária permanente da Cúpula das Américas, é quem decide o que fazer: esse é o papel que lhe conferiu Bush. Contém 100 parágrafos, parece que a instituição gosta dos números redondos para enfeitar e outorgar maior força ao documento. Uma epígrafe em cada uma das 100 melhores poesias da bela língua.
Havia certamente grande número de conceitos inadmissíveis. Será uma prova a fogo para os povos do Caribe e da América Latina. Será por acaso um retrocesso? Bloqueio e, aliás, exclusão depois de 50 anos de resistência?
Quem arvará com tais responsabilidades? Quem está exigindo agora nossa exclusão? Será que não compreendem que os tempos dos acordos excludentes contra nosso povo ficaram bem atrás? Haverá importantes reservas nessa declaração assinada por chefes de Estado para que se possa compreender que, apesar das mudanças conseguidas em duras discussões, existem ideias que para eles são inaceitáveis.
Nas novas circunstâncias, Cuba sempre mostrou sua disposição a cooperar ao máximo com as atividades diplomáticas dos países da América Latina e do Caribe. Os que devem sabem muito bem disso, mas não se pode pedir guardar silêncio diante de concessões desnecessárias e inadmissíveis.
Até as pedras falarão!
Fidel Castro Ruz4 de abril de 200917h34 •
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